sexta-feira, 17 de julho de 2009

Back in Bahia

Ulisses invejaria as casualidades modernas. Odisseia foi apenas uma história que Homero teve disposição de contar. Voltar para casa é, desde a Antiguidade, uma aventura entre naufrágios, voos atrasados, sereias, tempestades, turbulências, bons encontros, bons amigos, y otras cositas más.

Saí às 5h da manhã de domingo, e pela hora e época, já vestia um casaco. Mal sabia que aquele frio não era nada. A sala de embarque do aeroporto Santos Dumont foi pensada para ser um frigorífico. O dado não é oficial, mas não vejo explicação mais aceitável para tantos dutos de ar, e onde quer que eu sentasse, sempre tinha um na minha frente, então resolvi andar. Todos os outros passageiros sentadinhos, com seus laptops, e eu andando de um lado para outro. Muitos nem chegaram a levantar os olhos para reparar na criatura perambulante, mas não deixaram de notar o all star roxo que ia e vinha. Pelo visto, só eu me incomodava com o frio. Acho que minhas moléculas não estavam sequer acordadas, quem dirá agitadas!

Devidamente embarcada, resolvi ler um pouco para não dormir. Ficou na intenção. Acordar cedo depois de uma madrugada de jogatina e tiritando de frio, tentar ler Kafka. Dormi, óbvio. Acordei ao sentir que entramos em uma "zona de instabilidade", já próximo a Campinas. Olhei pela janela e me senti no Ártico. As nuvens estavam tão densas que pareciam blocos de gelo.
Pousamos em Viracopos, e calmamente desembarcava, descendo as escadas e... aimeudeusquefrio! Temperatura de 10º C, com sensação térmica de 2ºC (a sensação térmica é minha, dou a ela a temperatura que eu quiser). Fui carregada pelo vento até a sala de embarque, que naquele momento era o lugar mais confortável do mundo. Quente como sofá de casa de vó.

Mal entrei e já avistei um café. Dirigia-me a ele, quando, passando pela tela, resolvi olhar a situação do meu próximo voo: Embarque imediato. Logo depois a voz do além anunciou a última chamada. Meia-volta, volver. Toma bilhete, confere, abre a porta, choque térmico e corre. Não sei se eu corria pelo atraso ou do frio mesmo, sei que quase fui atropelada pelo trator de bagagem, ainda bem que o motoristas era gentil. Deveria haver mais motoristas de trator de bagagem nas ruas. Motoristas.

Não dormi, não li, não conversei com nenhum estranho, e após algum tempo avistei o verde do mar de Morro de São Paulo, Itaparica, Forte de São Marcelo, e pronto, cheguei. Desci com o bom e velho casaco, nunca se sabe. Em Salvador, 30º C, sensação térmica de 40º C.

Creio que um dos lugares preferidos de Murphy é a esteira de malas. Passaram vinte malas pretas, como a minha, e tive que ser um polvo para conferir tudo, e, claro, nenhuma era a minha. Foi aí que pensei seriamente que o mais vantajoso seria ter uma mala cor-de-rosa ou verde-limão. Então vieram as malas cor-de-rosa, azuis, laranja, verde-limão, roxa, da barbie, do mickey, da hello kitty, e nada da minha mala preta. Depois de ver a mala verde-bandeira cinco vezes, a minha finalmente apareceu. Pelo menos apareceu, podia ser pior.

No portão de desembarque, garotas gritavam insandecidas, com cartazes e camisas. Suspeitei que não fosse minha chegada que causasse tanto rebuliço. Logo os escritos da camisa satisfizeram minha curiosidade: "Fã clube oficial do Jeito Moleque". Ah, claro. Pelo que soube, a banda estava chegando para um show à tarde, o que provavelmente engarrafaria a Av. Paralela. Ainda bem que minha tia logo chegou, no estilo Chapolin Colorado, salvando-me do perigo, das fãs, bandas de pagode, trânsito e afins. A partir daí o domingo foi tranquilo. O domingo.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Levantar âncora

Há uma caixa de papelão aberta no meio do meu quarto, vazia, esperando que meus livros se desloquem da escrivaninha e se atirem nela. Gosto de objetos inanimados autônomos. Ainda não comecei a arrumar absolutamente nada, não por preguiça, mas simplesmente por não saber por onde começar. Odeio essa prática de ter que encaixotar minha vida para daqui a três semanas arrumar tudo de novo nas devidas estantes. Fazer as malas é uma das partes mais legais da viagem, mas encaixotar é um saco (com perdão do quase-trocadilho).

Como se não bastasse, tenho que terminar um relatório para amanhã (!!!), e depois de três horas criando raízes numa reunião mais enfadonha que tia-avó orando antes da ceia do Natal, devo conseguir a proeza de acordar cedo o suficiente para enfrentar a fila de inscrição, pela primeira vez no ano. Tudo isso porque há rumores de saída para o shopping na sexta. Bem, meu shampoo tem feito milagre da multiplicação até agora, mas não é bom abusar do santo. Vingança sacra em véspera de viagem é quase maldição. Portanto, vamos ao shampoo (é nesse momento que você se arrepende de ter saído de casa).

Na tentativa de ser uma pisciana mais organizada (que foi? Não vejo paradoxo algum!), apelei para as listas. Sim, no plural. Tentei fazer uma lista única, mas a discrepância entre itens me levou a uma segregação de ideias entre o necessário e o que chamo de menos essencial. Ficamos assim:

1) 1) Coisas de ordem prática

- shampoo
- lixa de unha
- fruittela
- elásticos e presilhas
- palavra cruzada (as empresas aéreas inventaram algo chamado conexão, uma espécie de concretização do tédio)
- trident azul
- ver o mar (de Salvador, porque o do Rio é gelado. Não que isso influencie na visão, mas enfim.)

2) 2) Coisas menos urgentes mas não menos importantes

- esfoliante

- cortar o cabelo

- transformador de voltagem

- sushi

- trocar as lentes dos óculos

- comprar estoque de fruittela

- sentir frio

- comprar caneta preta

3) 3) Coisinhas

- fondue de queijo

- sanduichão by papai

- arroz com pequi by mamãe
- olhar a caixa de correio

- ouvir o aprendiz de saxofonista da igreja ao lado de casa, às 7h da manhã!!

- puxar briga com meu irmãozinho de 1,85m e acabar apanhando, sempre

- morder Alice. Muito.


uhu.