terça-feira, 9 de junho de 2009

A saga continua

Sábado

Já acordei sem vontade de acordar. Mas tinha manteiga no café da manhã e isso muito me motivou. Ainda cedo fomos para o centro de Petrópolis, e a primeira parada já foi assustadora.

A Mansão da família Tavares Guerra, também conhecida como Casa Ipiranga, Mansão dos Sete erros e “A Casa mal assombrada” conserva sua estrutura e decoração originais, de cortinas douradas, lustres franceses, azulejos ingleses e outras velharias antiguidades. Os proprietários da casa devem ter seguido as medidas de conservação à risca, porque além do perigo eminente de ser esquartejado por tocar a cortina, até a poeira de lá parece ter 125 anos. Mas o lugar é bem interessante, bem como a ideia de memória passada pelo patriarca da família, mesmo com ácaros coloniais.

Petrópolis é realmente muito bonita, e não há como andar por lá sem imaginá-la nos tempos da corte. Ainda mais com o engarrafamento de carruagens da frente do Museu Imperial. Meu segundo ponto de parada foi a Igreja de São Pedro de Alcântara, localizada na Avenida Koëler. Desloquei-me pela nave vagarosamente, não exatamente por preguiça ou cansaço (por incrível que pareça), mas porque ouvia uma música, bem baixinho, que eu nem sabia de onde vinha, mas acalmava. Era uma espécie de canto gregoriano, creio eu. Alguém me tirou desse estado de quase transe para avisar que era hora de ir. Fiz um rápido sinal da cruz e voltei para o barulho do mundo.

Ainda não comentei o quanto a nossa guia era suspeita. Ela falava das coisas como se fosse contemporânea de D. Pedro II, e era ainda a principal suspeita do Mistério da Casa Ipiranga (dá até livro infantil). Chegamos ao Palácio de Cristal, que embora seja de blindex, é lindo. Foi lá que a colega de Matusalém comentou dos bailes que aconteciam no palácio, com certo saudosismo, relembrando as músicas “da nossa época”. Disse isso com tom de indignação, levando-me a crer que não foi convidada para o baile da Ilha Fiscal. Esses plebeus...

O Museu Imperial fica num terreno enorme. Não sei pra que tanto jardim para tão pouca casa. Ok, não tão pouca assim. A primeira coisa que visitei foi a varanda, onde fiquei meia hora sentada, esperando outro grupo sair. Fiquei impressionada com os tamanhos das carruagens. Sinceramente, aqueles bancos mal comportam um quadril tamanho 38, quem dirá aqueles vestidos armados da época. Aquilo desafia a física ou, no mínimo, minha compreensão de tamanho 38.

Enfim, o espetáculo. A noite estava fria e úmida em meio a todo aquele mato. O céu tinha um tom avermelhado, fazendo destoar o azul da torre da Catedral. Em frente ao portão do museu, esperávamos o início do espetáculo com música nos ouvidos e conversas aleatórias. A introdução do Som e Luz é algo quase Disney (embora eu nunca tenha ido à Disney): vozes estrondosas vindas das árvores (?), luzes verdes que só tornava tudo mais sombrio, sendo guiado por um dragão da independência, ou algo próximo. Vai ver era um lagarto. O espetáculo é lindo. E úmido. Portanto está faltando um elemento no nome, mas preferi não discutir. Ao fim, D. Pedro II virou herói e voltamos para o hotel.

domingo, 7 de junho de 2009

Pelas barbas do imperador

Acabei de chegar, já coloquei a roupa suja na máquina, tomei banho e desfiz a mala. Estou me tornando uma menina eficiente. Ainda estou meio tonta porque passei toda a viagem jogando cartas, o que é, além de jogo de raciocínio, uma prova de equilíbrio para manter o baralho em cima do violão (saída possível no corredor do ônibus) durante as curvas da serra. E com todas as adversidades ainda consegui ganhar dos marmanjos. Ha!
Bem, vamos ao que de fato importa: a viagem.


Sexta-feira, 05/06/09
Chegamos em Nogueira (distrito de Petrópolis) no fim da tarde de sexta. O quarto do hotel, que era divido por seis, continha uma cama de casal, duas de solteiro e um colchãozinho (vá, era humilde) no chão. Dessa forma, decidimos que escolha da cama seria de maneira justa e democrática: Quem chegar por último é a mulher do padreeee!!!
Bom, não preciso nem comentar toda a minha sagacidade e perspicácia ao ficar com a cama de casal.  ;D
Já imaginávamos que o banho seria um problema; um chuveiro para seis, tendo que ficar pronta em duas horas, não seria nada fácil. Mas meu querido Murphy não podia falhar nem mesmo na serra. A garota que entrou para tomar banho primeiro voltou dizendo que o chuveiro estava estranho. Acionei meu lado Yuri* e fui cumprir meu papel de macho. Sim, o aparelho estava estranho, inclusive a água, que até agora eu não sei se realmente era água ou algo próximo de piche. Essa é a parte em que peço para não imaginar a cena. Seis garotas no banheiro, eu, a anta, de toalha, decidi fuçar o problema. Fechei o registro; calma. Abri. A água(?) veio tão forte que que fez cair uma peça do chuveiro, jorrando água nas seis. No desespero de tentar recolocá-la, minha toalha caiu, escorreguei no tapetinho maldito, e de um segundo para outro começou a sair água fervendo. Levantei, fechei o registro, respirei, me recompus e... não consegui concertar o chuveiro. O banho foi alternando jatos de água a 90º C com outros de 3ºC.
Todas prontas e cheirosas (depois de alguns choques térmicos) fomos para uma noite alemã. Tentei não utilizar minha visão etnocêntrica, juro! Mas depois de 50 minutos tocando a mesma música, eu já não sabia se o velhinho realmente falava alemão ou se ele tinha exagerado na cerveja. Pior foi ser arrastada para a pista de baile, com sono, completamente desengonçada; tinha um tal de junta-separa-troca-de-lugar, que quando o grupo dava o primeiro passo eu já estava mudando de par, andava quando não devia e aí tinha que voltar correndo enquanto todos já estavam no passo seguinte. Meu intuito de discrição foi para o ralo, porque já não havia como não notar aquele ponto roxo destoando de todo o resto. Com muito sono e os pés ardendo de dor, consegui a proeza de chegar ao meu quarto, depois de dois lances de escada. Descobri que a melhor cama nem fez tanta diferença. Apaguei.

Aguardem os relatos finais. (sim, eu tenho leitores imaginários)

Nota: *ah, é uma longa história.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Parece piada

Mas é minha casa. Minha família é estranha, como todas as outras.  Divertida e cheia de conflitos, como a sua. Mas minha relação com meu pai é... no mínimo diferente.

E o telefone toca em um pacato lar conquistense.

Pai: alô
Bianca: Ooooi paaai!  =)*
P: pai? Que pai? Pai de quem?
B: bem... (?)
P: você passa uma semana sem dar notícias, nem sequer ligou pra casa, e ainda quer ter pai?!
B: ah, é que meu tempo é difícil aqui, assim como o acesso ao telefone...
P: ... até que você precise de dinheiro e resolva ligar.
B: que absurdo! Eu não ligo só pra pedir dinheiro. Agora mesmo, estou ligando pra contar que vou viajar no fim de semana.
P: e daí?
B: daí que vou precisar de dinheiro. =)
P: é isso mesmo, eu sou um explorado, sirvo apenas para mandar dinheiro (Avião cai próximo a Fernando de Noronha), você não faz a mínima questão de ligar pra saber como estão as coisas (OEA revoga exclusão de Cuba), fico aqui abandonado, consertando as tomadas (?) (Bovespa cai 3,5%), mas trabalhar que é bom ninguém quer (Quebrei minha lixa de unha), é só me explorar , isso é que importa (...)
B: ... puxa.
P: mas isso vai mudar. Vou começar a sair com minha nova galera que faz trilha!
B: oi?
P: Pois é, vou fazer trilha de moto.
B: mas você não tem moto.
P: vou comprar essa semana
B: haoiahaoaiahoaiahaoaiahoaiahaoihoaiahaoiuaoahoaiahoia
P: ta rindo do que?
B: err... nada. Mas então, como estávamos falando, aquele dinheiro...
P: pra que você quer dinheiro?
B: pra viajar.
P: vai pra São Paulo?
B: não, Petrópolis.
P: fazer...?
B: tomar um chá na casa de Santos Dummont.
P: em São Paulo???
B: não, pai, em Petrópolis!!!
P: e quem me garante que essa tal viagem não é uma forma de extorsão alternativa?
B:          ¬¬ 
P: P**a que P***u!!!!!!! Tomei um choque!
B: é o que dá sonhar que é eletricista. Deposita quando?

P: você não me convenceu ainda.
B: boa noite, pai.
P: tchau, até a próxima vez que precisar de dinheiro.
 

E até agora, nada na conta. Acho que estou de castigo. E por incrível que pareça, eles ficam mais severos quando saímos lá de casa. É que o efeito é maior, principalmente quando financeiro. Quanto à viagem, teremos notícias. Ou pelo menos assunto para o chá.

Nota:  * expressão de cinismo.