domingo, 17 de maio de 2009

Bãe, tô bal

Um dia frio, um bom lugar pra escrever um trabalho de Geografia de 15 páginas, o pensamento na prova de Matemática... e é assim que eu vivo.

Domingo é uma delícia. Exceto quando seu nariz está tão obstruído que já não se tem paladar. É o dia perfeito para acordar às 7:00, lavar roupa, e chegar na porta da biblioteca antes mesmo dela ser aberta. Como é sublime o dia de descanso do trabalhador.

Levantei com a cabeça pesando uma tonelada, dor em cada articulação. Fui me encaminhando para o banho e fazendo uma lista mental de doenças possíveis e seus respectivos remédios. É útil ser um hipocondríaco informado.
Mais tarde, fui procurar um diagnóstico preciso:
- Letiiiiiiiicia, me examina? com pneumonia.
- O que você tá sentindo?
- Fortes dores nas costelas.
- Você só dormiu de mal jeito.
- Mas dói quando eu respiro.
- Vai dormir que passa.

Fico revoltada com esses médicos insensíveis de hoje em dia. Tudo bem que Leticia não tem nem diploma de 2º grau, mas isso não a torna menos insensível. Saí. Caminhei sob um sol escaldante (tendência ao exagero semioculta) vestindo 3749 casacos (agora explícita), o que, claro, não podia passar despercebido. Em cada esquina (são muitas) tinha um pra perguntar:

- Que é isso, garota? Tá doente?
- Só um resfriado, coisa pouca, logo passa.

[3 min depois] 

- Meldels, Sampaio, tá doente?
- Só um resfriado, coisa pouca.

[1 min e 22 seg depois]

- Bah, guria, tá doente?
- Só um resfriado.

[45 seg depois]

- Biaaa, você tá doente?
- Sunresfrido.

[10 seg depois] 

- Caramba Bi...
- É GRIPE SUÍNA, QUER?????

Delicadeza e paciência não são muito abiguinhas.

E saga continuou... naquela velha fome noturna, fui comer uma pêra marota. Porém (termo de apimentação da história) ela estava levemente gelada. Tá, gelada demais para minhas pobres mãos enfermas. Portanto (termo de desproblemização), no auge de minha sapiência, deixei-a uns minutos no micro ondas (que só inicia o problema).
 Claro que eu sei que a bodega cozinha de dentro pra fora, coisetal, portando eu comeria uma pêra cozida. Mas eu até gosto. Na verdade não gosto, mas como não estou sentindo gosto nem mesmo do comprimido mastigado, encarei. Não faço ideia se estava bom, mas meu estômago não reclamou. Ainda. Posso acordar com uma infecção, só pra somar. Mas aí não poderia fazer a prova de Matemática. E como no início do texto, é só assim que eu vivo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Filosofias de mesa- Parte 1

Sabe 0 que eu acho legal? Limão. Mas se tem algo que eu não gosto é alho. Porque estes são meros detalhes. E um detalhe mal empregado pode causar desastres. É estranho como certos elementos da culinária são, além de inúteis, muitas vezes desprezíveis. É nesses momentos que a gente se pergunta: pra quê? 
De início, não sei quem foi a peste que cismou que alho era tempero! Sempre achei histórias de vampiros meio ilógicas, mas devo admitir que só o cheiro daquele troço já me faz permanecer a metros de distância de onde ele esteja. E quando você vai todo empolgadinho apanhar  o filé, e o danado está completamente contaminado por alho, que se você for catar em plena fila do você-que-se-selve-se, corre o risco de ser linchado. Meu caro, é este o momento de praguejar contra o maldito.
Tenho um professor que diz que batata-doce é o demônio em forma de vegetal, e uma professora que acredita que a salsa vai dominar o mundo. Tá, mas e o alho? Ele é tão marginal que nem ao menos o lembram nesses momentos fatídicos. Francamente, o que dizer de um vegetal (?) que tem cabeça e dente?
Admito que meu trauma tem raízes. Chegava a evitar a casa da minha avó em tempos de gripe. Não vou contestar o poder de cura do Allium sativum, mas enfiar aquela gosma de alho e mel garganta abaixo, além de um estupro medicinal, não me trazia melhoria alguma. Aí fiquei assim, odiando alho para todo o sempre, amém. Texto inútil né?

Bom, o limão não entra no post, mas como ele é azedo e combina com tudo, ficou bonitinho na entrada. É, percebe-se que eu gosto de limão.

domingo, 3 de maio de 2009

Achados não perdidos

E numa bela manhã de sol, minha agenda havia simplesmente desaparecido. Claro que minha memória nunca foi nada muito louvável, mas realmente não me lembrava de tê-la deixado em algum lugar (a agenda, não a memória). Procurei em todos os lugares possíveis, até que me conformei em não vê-la mais. E realmente não vi, durante dois meses. Noite qualquer, cheguei ao quarto, e quem encontro em cima da cama? A dita cuja. Pensei: uma das minhas colegas de quarto deve, ter achado, ou alguém entregou a elas. Mas quando as encontrei, disseram que não sabiam de agenda nenhuma. Ninguém mais tem acesso ao meu quarto. Eis o mistério da fé, digo, da agenda. E eu bem me conformei.
Acontece que há cerca de três semanas, procurei na mochila, lugar de onde nunca saía, a minha pasta de papéis (textos, documentos, provas), e com surpresa não a achei. Também não achei no quarto, no armário, em alguma sala de aula, nada. E em todo esse tempo, ninguém apareceu para me entregar. Tudo bem, até que ontem, ao entrar no quarto, deparo com a pasta no chão, como se tivessem jogado. Porém, contudo, entretanto, todavia (e outras ressalvas) a bendita NÃO passa por baixo da porta, e mais uma vez, nenhuma das outras duas sabiam de pasta alguma.
Por que eu? E de novo? Às vezes me cansa esse meu poder de atração sobre coisas estranhas. Vovó diria é resultado de pouca reza. Valei-me.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Uma manhã cinza

Essa cor, que é de dia que ainda é noite, faz a gente acordar tarde, não tem jeito. Mas até poder-se realmente olhar o dia, há todo um ritual. Um quê de abrir os olhos de mansinho, como a espiar se já é mesmo a hora, e a dúvida faz tudo fluir devagar numa manhã de sexta- feriado. Levantar da cama com quem ainda dorme; os cabelos em sua rebeldia matinal. No trajeto entre o quarto e o banheiro, um corredor que faço ficar infinito num caminhar paciente. O espelho ri de mim, não como quem zomba, mas de realmente ver certa graça em cena tão pitoresca.

Volto ao meu cenário original em sua arrumação peculiar: cama desfeita com bichos de pelúcia espalhados, um tênis roxo largado no chão, escrivaninha espalhafatosa, de livros espalhados, cd’s espalhados, canetas, relógio, remédios, compromissos, saudades, perfume, papéis de fruittela, papéis de texto, papéis de recados, uma câmera polaroid quebrada, e em algum ponto, eu, vestida com meu melhor pijama de ovelhinhas, ao som do Canto de Ossanha, pensando em como seria a manhã se o sol estivesse mais vivo, ou se eu mesma tivesse acordado mais tarde, ou se simplesmente o mundo não tivesse acordado. Não hoje.