domingo, 25 de outubro de 2009

Novos velhos conceitos

Despir-se do narcisismo como convida Caetano: não é espelho esta cidade. No 15º andar na Avenida Paulista, procuro o mar no horizonte, como normalmente faria em Salvador. Mar de prédio, mar de gente. Definitivamente, não é espelho. Não encontro aqui as ladeiras do Pelourinho, as barracas de praia, ou os coqueiros de Itapuã. Não me toca, como a outros, cruzar a Ipiranga com a São João, como ver a extrema pobreza em cama de jornal na praça da Sé, ou ver o explícito tráfico e prostituição da janela do hotel no centro da capital. Sei que a cidade não é só isso, mas sendo necessário desconsiderar estes fatos para perceber seus encantos, é difícil aceitar tamanha ignorância.
Na praça, andei pela história, pelos banqueiros de outrora, pelos barões do café e seus monumentos na mesma praça, tropecei em mendigos e seus cobertores. São Paulo é rica em sua vontade de ser Chicago, verde na tentativa de Central Park, e linda em sua diversidade. Tem criança que bate, homem que apanha, polícia que corre, bandido que manda, família e domingo no parque. Meninas que brincam na calçada, meninas que choram sem pai, meninas que andam no shopping, meninas dos Jardins, meninas da Augusta. Todas gostam de happy end.
Eu não simpatizava com São Paulo. Nem um pouco. A ideia de engarrafamentos nas marginais, e seus odores, muita gente perdida e outro tanto no rumo errado, e de que o céu era cinza, não pela poluição, mas pela quantidade de prédios, que não nos permitiria vê-lo. E eu estava certa. São Paulo é isso, e mais um monte de defeitos, e outro monte de qualidades.
É uma cidade plural. É o plural da gastronomia, da arte e da arquitetura, mas dizer que há lugar para todos é hipocrisia. A não ser que a porta da igreja seja considerada um lugar decente para dormir. Hipocrisia também seria negar que isso exista em qualquer outra grande cidade. Porque todos nós temos prédios pichados dentro de nós, mas também temos ibirapueras, museus, mercados, enfim, o que tentamos mostrar. Até Liberdade nós temos em comum. Temperamento e tempo inconstantes, como de repente chovo na tarde de Sol.

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