domingo, 18 de outubro de 2009

Sampa trip

CAPÍTULO I- Sexta-feira

Antes de mais nada, a demora na postagem foi pela velocidade dos acontecimentos. Saí muito cedo, voltei muito cansada, e mesmo com minha boa vontade de postar durante a viagem, pagar 16 reais por 1 hora de internet no hotel não me parecia a melhor ideia.

Saí do dormitório às 4:30 da manhã, com mala, mochila, chaves, caderno, caneta, mentos, muito sono, e a velha sensação de estar esquecendo alguma coisa. Empurrei algumas coisas goela abaixo, porque não se pode chamar de café da manhã uma refeição feitas antes das 7h! Já me encaminhando para o ônibus, encontrei os amiguinhos do bem:

- E aí, Sampaio, trouxe o baralho pra rolar o truco?

- Claro, o baralho. O baralho? O baralho!

A velha sensação estava certa. Fui correndo (na minha velocidade habitual, claro) até o quarto, achei o baralho embaixo de alguns livros e anotações, e voltei em menor velocidade, para evitar a fadiga. No escuro da madrugada, senti que estava sendo seguida ao atravessar a ponte. Hesitei um pouco em olhar para trás, mas quando finalmente o fiz; ninguém. Acordar cedo realmente não é de Deus. Por volta de 6h, o ônibus era um mar de gente roncando. Só eu acordada. Percebe-se que o Sol e eu não nos entendemos quando o assunto é sono.

Rios, pontes e pedágios, até que enfim chegamos ao destino: prédios, marginais, vendedores de carregador de celular nas marginais, barracos sob viadutos, trânsito. É, isto é São Paulo.

Fiquei hospedada em um hotel da Av. Ipiranga, que, segundo as más línguas, foi uma casa de tolerância décadas atrás, porque os corredores em forma de labirinto são bem suspeitos, sem comentar o que se pode ver na madrugada no centro de São Paulo. Sentia-me uma câmera escondida do Fantástico. Mandei as malas pelo elevador e subi pelas escadas, para poupar tempo. Ledo engano. Não entendia porque o corredor começava pelo 319, depois passava para o 305, até que quase perdida consegui achar meu quarto, e descobri que eram vários elevadores e várias escadas. Consegui achar minha mala na frente de um dos elevadores que ficava do lado de uma das escadas, e ainda refiz o caminho até o quarto sem me perder, mas ainda havia a sensação de estar esquecendo alguma coisa. De repente ouvi uma voz ao longe chamar meu nome. Minha colega de quarto não era tão sagaz quanto eu para achar caminhos em labirintos. Fui buscá-la antes que o ônibus saísse sem nós.

Museu da Língua Portuguesa- a primeira visita foi feita logo após o almoço e com uma boa dose de sono, mas o fato de não ser guiada ajudou bastante. Não há nada mais chato em um museu do que alguém fazendo perguntinhas-pegadinhas para depois iniciar uma explicação detalhada na obra, que consegue prender sua atenção em qualquer coisa que não seja o tema em questão. Atravessando a rua, chegamos à Pinacoteca, onde fomos recebidos pela Ninfadora Tonks professora e artista plástica do cabelo cor de chiclete ploc, que nos conduziu pelas exposições de Matisse, Almeida Júnior, modernistas e outros tantos. Mas a melhor obra eram piscininhas com sopeiras de porcelana, que encostavam umas nas outras e faziam barulho de chuva caindo na telha.

A noite era de jogatina no saguão do hotel, som de música com zuada de truco, coisital. Resolvemos ir para um lugar mais tranqüilo para jogar. A coisa funcionou mais ou menos assim:

- Ei, vamos jogar no quarto do Zé?

- Êa, jogatina no quarto do Zé! Onde é?

- Lá no 14.

- Chamar mais 14?

- O quê? Festa no 14?

E quando chegamos, parecia que a fuzarca tinha se transferido do saguão para o quarto. Enfim, é o que chamo de esquema “Rua Flores, oito e meia”.

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